Câncer Político

Por Gabriel Mackvaryu

Revolta-me o atual foco da imprensa e do pensamento público que agora se solidarizam com a Ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e seu Linfoma. Não porque a ministra seja uma má pessoa e mereça essa enfermidade e dificuldades que essa lhe impõe. Mas o problema crucial é que essa situação nos tira o foco dos verdadeiros cânceres da nossa sociedade que – infelizmente – diferentes do da ministra, são sempre descobertos tardiamente já tendo causado estragos pavorosos e irreversíveis.

Falo, sim, de células cancerígenas que destroem órgãos, mas órgãos públicos, como Câmara de deputados, abusando impunemente de nosso dinheiro público. “Cânceres” que se fossem detectados mais cedo poupariam milhões, os quais poderiam ser investidos em áreas tão carentes como educação e saúde pública.

O estrago de tais descobertas tardias pode ser exemplificado pelos valores gastos com passagens aéreas para membros do STF e da Câmara, que cresceu 320% em cinco anos. Os R$ 269 mil gastos em 2003 subiram para R$ 1,133 milhão, em 2008. E, obviamente, funcionários federais não usam milhagem, já que a lei que permite o uso desse benefício está engavetada há mesmo cinco anos. Quando se toca o Senado o valor é ainda mais exorbitante.

O escândalo das 181 diretorias no senado é o mais contundente exemplo, já que seu orçamento chega a R$ 2,7 bilhões, mas cerca de R$ 2,2 bilhões vão para o pagamento de pessoal, ativo e inativo. Sobram R$ 600 milhões. Dinheiro dado, em parte, a 181 diretores que não existiam até oito anos atrás, quando o número era de apenas 32. Dos atuais, 50 foram exonerados por serem diretorias consideradas completamente inúteis e fantasmas segundo o próprio presidente do senado. Esse gerará uma economia estimada de R$ 50 milhões por ano.

Agora pense você o que uma verba de R$50 milhões, que literalmente era gasta em inutilidades, poderia realizar pelo seu estado.

A indignação é ainda maior quando se escuta os rumores do povo preocupado com qual candidato escolher já que a favorita do atual presidente pode acabar enfraquecida pela doença, quando deveriam estar mais atentos a quem não se deve escolher para que a política nacional possa recuperar sua saúde.